As apresentações ocorreram no Teatro do Liceu Cuiabano e no IFMT Campus Octayde
Com o tema “Ilu Ayê”, expressão em iorubá que significa “terra da vida” ou “mundo negro”, a XV edição do Áfricas celebrou, nos dias 11 e 12 de novembro, a ancestralidade africana e a valorização da cultura negra. O evento, realizado no Teatro da Escola Estadual Liceu Cuiabano e no IFMT Campus Cuiabá – Cel. Octayde Jorge da Silva, trouxe uma programação marcada pela exaltação da beleza, da força e dos saberes do povo negro.
Previsto no Calendário Acadêmico de 2025, o encontro envolveu estudantes dos cursos de Ensino Médio Integrado, Subsequente, Superior e Pós-Graduação, com atividades nos três turnos.
De acordo com a professora Karina Oliveira Brito, integrante da comissão de realização do evento, o Áfricas é um dos eventos mais tradicionais do campus que proporciona reflexão, valorização e celebração das identidades afro-brasileiras, africanas e indígenas. “O Áfricas não é apenas um evento, é um aquilombamento que simboliza resistência, união e compromisso humanitário com a educação antirracista”, destaca.
“Desde sua criação em 2006, o evento é um compromisso do IFMT com uma educação antirracista, em consonância com as leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008, que tornam obrigatória a abordagem da história e da cultura africana, afro-brasileira e indígena em todos os níveis de ensino”, explica.
A abertura do evento foi marcada por apresentações culturais, mostra de curtas produzidos por estudantes do curso de Cinema da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), além de apresentações musicais dos grupos Afro Som e Rimas na Base e teatral com a peça Trapiche Abandonado, interpretada pelos estudantes Victor Lorenzzo e João Gabriel Salustiano.
Letramento racial
Entre as palestras, destacou-se a fala da professora do IFMT Manuela Arruda, que abordou o tema “Letramento racial e educação antirracista”. Em sua apresentação, ela enfatizou as desigualdades raciais presentes no Brasil e como essas diferenças são evidenciadas pelos dados oficiais.
“Quando a gente vai olhar para os dados estatísticos sobre as desigualdades no Brasil, a gente vê que elas não são apenas sociais, são também raciais. E isso é apontado pelo IBGE e pela Pnad”, afirmou.
Manuela destacou também a importância do debate racial nas novas gerações. “O modo como classificamos o que é belo, o que tem poder, também passa por essa lógica racial. Quando começamos a problematizar essas questões, ganhamos ferramentas para desconstruir uma estrutura que não é natural.”
A professora concluiu reforçando a necessidade de reconhecer o racismo estrutural nas relações cotidianas. “O racismo estrutural faz a gente naturalizar microviolências, muitas vezes disfarçadas de curiosidade. Ele se manifesta na linguagem, nos olhares e até em quem escolhemos nos aproximar ou nos afastar.”
Diversas atividades
O segundo dia do evento foi marcado por uma programação intensa, com cerca de 45 atividades, entre oficinas, apresentações, minicursos e debates. Dentre elas, Cinema Pensante, exposição Memória do Seminário Áfricas, oficina Introdução ao Siriri, o debate Mulheres na História Africana em Mato Grosso e oficina de Turbantes.
Entre as atividades que se destacaram na programação, esteve a sala temática “Reinos Africanos” desenvolvida pelos estudantes do curso técnico em Edificações. A proposta integrou reflexões sobre a produção histórico-literária do Brasil Colonial e os Reinos Africanos da Antiguidade Tardia, sob a orientação do professor Sidney Júnior Martins da Silva.
Outra ação de destaque foi a oficina interativa “Árvore da Consciência Negra”, que propôs um espaço de vivência, escuta e criação coletiva. Durante a atividade, uma árvore foi instalada no jardim do campus para que os participantes pudessem compartilhar sentimentos, registrar reflexões e trocar experiências em um ambiente de diálogo e acolhimento. A oficina foi organizada por estudantes do curso de Pedagogia da UAB/IFMT – Polo Cuiabá e simbolizou o enraizamento da consciência negra e o fortalecimento das relações comunitárias.

