Marli Walker atua no IFMT há 13 anos e compartilha a expectativa para atuar na nova função.
A professora e escritora Marli Walker assumiu a Direção de Ensino do Campus Cuiabá Cel. Octayde Jorge da Silva há menos de um mês. Essa função provavelmente será lembrada como uma das experiências mais significativas de sua trajetória na Educação. O campus Cuiabá é o maior do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), em número de matrículas, são mais de 4400 estudantes, e também carrega uma história centenária.
"A educação é a forma mais segura de transformar a vida das pessoas. A Rede Federal, como política pública nacional, é o programa mais sério que já se instituiu nesse país para mudar a vida de jovens por meio de um sistema de ensino que oferta educação de qualidade para a vida e para o trabalho. Nada transforma mais do que isso”, resume a diretora.
A história de Marli no IFMT teve início em 2011. Mas, antes da chegada ao campus Cuiabá, ela destaca a primeira experiência como educadora, no interior de Mato Grosso. Aos 18 anos, era normalista, recém-casada e preparava a mudança para o Nortão. “Eu não fiz magistério pensando em ser professora. Na época, no interior de Santa Catarina, os meninos estudavam à noite, no curso de Contabilidade, e as meninas durante o dia, no curso Normal.”
Os livros e materiais do curso serviram para alfabetizar crianças, filhos e filhas de trabalhadores das serrarias localizadas na área rural de União do Sul, localidade próxima a Cláudia, na época distrito de Sinop. Marli e a família abrigaram uma escolinha, construída ao fundo de sua casa. Além de alfabetizar as crianças, ela preparava os lanches distribuídos pela Secretaria de Educação de Sinop e servia aos pequenos estudantes no intervalo das aulas.
“Era uma distância muito grande, muita chuva, tempestade e lama, e muita poeira na época da seca. Um universo muito diferente do que eu tinha vivido até então. Eu era muito nova, tive insônia, tive medo de não conseguir alfabetizar as crianças, mas deu tudo certo… Foi uma das experiências mais incríveis que eu já vivi.”
Outra experiência destacada por Marli foi vivida no IFMT. A professora foi convidada para atuar no recém-criado Campus Avançado de Sinop, em 2016, e participou dos cursos de Formação Inicial Continuada (FIC) de Língua Portuguesa para Estrangeiros. “Esse curso recebeu muitos imigrantes do Haiti que moravam na cidade e foi o primeiro do IF com essa proposta. Depois fizemos os cursos no campus Cuiabá e formamos algumas turmas, antes da pandemia”, relembra. Foi credenciada em cooperação interinstitucional ao Programa de Mestrado Acadêmico em Letras da UNEMAT, Campus de Sinop, no qual atuou durante alguns anos.
Novos caminhos
De volta ao campus Cuiabá, e movida por novas experiências, Marli encarou a coordenação do Curso Técnico de Secretariado Integrado ao Ensino Médio com o objetivo de aprender os trâmites e procedimentos relacionados à gestão do curso. “De tempos em tempos eu tenho que fazer outras coisas. Na docência, além das aulas, da pesquisa e atividades de extensionistas, é possível ser gestora e isso é diferente das atividades do dia a dia”, diz. Em 2024, ela gerenciou os cursos superiores do campus, quando acompanhou as visitas do MEC aos cursos de Engenharia Elétrica e Sistemas para Internet, ambos avaliados com excelentes notas.
O estalo para assumir o próximo desafio veio após uma reflexão sobre o acesso e a permanência de mulheres em funções de decisão. Marli é poeta, escritora, doutora em Literatura, membro da Academia Mato-grossense de Letras (AML), e referência quando se fala em literatura produzida por mulheres de Mato Grosso. “É preciso mudar a realidade na qual estou inserida. Trabalho em um curso majoritariamente feminino e contribuo com a formação das estudantes. Entendo que somos espelho e modelo para elas. Foi pensando também nesse alcance que, quando recebi o convite para a Direção de Ensino, eu não pude recusar”, afirma.
Para Marli, a nova experiência é encarada como a abertura de um novo caminho que precisa ser bem fundamentado. “Educar para a vida e para o trabalho é basicamente uma concepção que abarca tudo o que podemos pensar em termos de educação. É uma proposta inclusiva, direcionada a uma parcela que historicamente está à margem. E eu amo essa característica do instituto.” O Ensino, para a diretora, é a alma da instituição. Ela adianta que, ainda em 2025, o campus implementará uma novidade para aprimorar o acesso de estudantes ao IFMT e contribuir com a transformação de mais vidas.
